É mais do que sonhar.
Sobre a importância de transformar nossos sonhos em metas reais de vida.
Photo by Pixabay.
No dia 11 de setembro de 2018, cheguei em casa encharcada, com as pernas inchadas, os pés cheios de bolhas, os olhos ardendo pelo sal do suor. Não foi numa prova oficial, não valia medalha nem nada disso, mas eu me senti tão forte, tão capaz, tão merecedora daquilo que, quando atingi a marca dos 21 km, a minha primeira meia- maratona, fiquei tão emocionada que ainda tive energia para correr mais um quilômetro inteirinho. Ao todo, foram 22 km naquele dia. E, então, quando me perguntaram por que é que eu havia corrido tudo aquilo, já que não valia nenhum prêmio, troféu, medalha, promoção, aumento ou qualquer espécie de reconhecimento externo, respondi com a segurança de quem tem um propósito claro e sabe exatamente qual é o gosto de se desafiar todos os dias: “Foi porque eu tinha uma meta”.
Eu tinha uma meta.
Consegue perceber a força de tudo isso?
Eu tinha uma meta.
É até engraçado dizer uma coisa dessas, já que simplesmente não consigo visualizar uma vida sem metas (desde que elas não afetem a minha saúde mental). São as metas que nos fazem levantar da cama todos os dias, fazer o que precisa ser feito, desafiar o que parecia impossível e construir alguma coisa que realmente importe e que faça sentido pra gente. Sim! Porque este é um ponto importante sempre que o assunto é definir uma meta: ela precisa ter um propósito; ela precisa fazer sentido para aquele que deseja chamá-la de sua.
Costumo dizer que meta sem propósito é meta vazia, sabe? O propósito é o seu porquê, algo que precisa ser realmente SEU, o que significa dizer que se a meta só existe por causa de algo que alguém te falou, ou que você acha que precisa conquistar para ser aceito, amado, respeitado e coisa e tal, chances são que você desista no meio do caminho, ou que não se preencha de nada de coisa alguma quando alcançar aquela tal meta, simplesmente porque ela não partiu do lado de dentro, mas te foi imposta, mesmo que indiretamente, pelo “lá fora”.
Então, quando eu falo de meta, eu falo de algo que realmente faça sentido pra você, uma meta que seja sua, que te desafie, que te inspire, que te tire da zona de conforto, que te faça chorar de alegria quando você alcançar.
Uma meta bem SMART, como a gente gosta de dizer: específica (para que você possa definir exatamente o que você quer), mensurável (para que você possa avaliar o seu progresso enquanto caminha em direção àquilo que tanto deseja alcançar), atingível (para que você se desafie, sim, mas, ao mesmo tempo, não se frustre, não se pressione, não se cobre demais nem viaje na maionese), relevante (para que você tenha clareza do porquê aquilo é realmente importante pra você) e com um prazo certo para acontecer (para que você não deixe para correr atrás do que você sabe que precisa ser feito só “quando der”. Ou seja: nunca).
Em suma, metas são diferentes de sonhos. Porque sonhar você pode sonhar com absolutamente tudo o que você quiser: um cavalo alado te tirando da terra das expectativas e te levando para um mundo em que tudo acontece exatamente da maneira que você gostaria que fosse; uma torta gigante de chocolate com calorias de uma folha de alface; o piano do propósito caindo magicamente sobre a sua cabeça só pra te dizer, em forma de música, qual é o caminho que você deve seguir; o cofre do Tio Patinhas se abrindo pra você no melhor estilo das Portas da Esperança; a declaração de amor de quem você ama; seu parceiro te dizendo que vai parar de fumar; seu filho sendo aprovado no melhor concurso público de todos os tempos; milhares de vendas do seu produto online pipocando na sua caixa de e-mail em menos de 30 segundos (mesmo que você efetivamente nunca tenha desenvolvido um produto online) e por aí vai…
O sonho, em si, ao mesmo tempo em que aceita absolutamente tudo, não nos exige nada. Ele pode ser completamente abstrato, pode não fazer o menor sentido, pode envolver coisas que a gente gostaria que os outros fizessem (e que não necessariamente eles gostariam de fazer também), pode não demandar nenhum esforço da nossa parte, pode ser o que a gente quiser, do jeito que a gente quiser, da forma que a gente quiser e, por isso mesmo, pode ser que ele nunca aconteça de fato, principalmente quando tudo o que a gente consegue fazer pelos nossos sonhos é mantê-los guardadinhos no campo da imaginação.
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Já a meta… A meta é um sonho que a gente consegue mapear e traduzir em ação, planejar, colocar prazo (sem se tornar um refém dele, porque a vida acontece e pode mudar todas as nossas certezas de lugar, né?) e fazer acontecer. Um sonho que não necessariamente precisa fazer sentido para as outras pessoas (e que, inclusive, pode até ser visto como algo impossível, maluco ou estúpido pelos outros), mas que faz tanto sentido pra gente, que é tão importante pra gente, que simplesmente não dá pra ignorar, adormecer, guardar, esquecer, deixar de fazer, entende?
Traçar uma meta é como dizer um sonoro e gigantesco sim para o sonho. É levantar da cama mesmo num dia nublado, morrendo de preguiça, só para fazer o que a gente sabe que precisa ser feito. É gerar disciplina suficiente para não se tornar um escravo das próprias vontades: estudar quando a vontade é sair, trabalhar quando a vontade é chutar o balde, fazer atividade física quando a vontade é se esticar no sofá e assistir à TV, optar por uma alimentação mais saudável quando a vontade é se entupir de junk food, economizar e investir aquele dinheiro que sobrou no final do mês quando a vontade é gastar até o último centavo ao ler a palavra “liquidação” na vitrine da loja.
Traçar uma meta é também se autorresponsabilizar pela sua própria jornada, tanto pelos percalços quanto pelas vitórias. É entender que existem coisas que, por mais que você sonhe muito, não estão sob o seu controle, independem da sua vontade, são o que são. E ponto. Não adianta descabelar.
Se você não tem metas na vida, que diferença faz alcançar o que quer que seja pra você? Se não existe um propósito suficientemente forte e grande pra te fazer continuar, mesmo quando muitos outros desistirem, como experienciar os aprendizados de cada derrota e verdadeiramente fazer valer a pena todos os percalços da caminhada quando a vitória chegar?
Se são os sonhos que fazem a vida valer a pena, são as nossas metas que fazem os nossos sonhos valerem a vida.
Trace metas. E desafie-se todos os dias a alcançá-las da melhor maneira que você puder, cada dia um pouquinho mais (se elas ainda fizerem sentido pra você, claro).
A vida não é estática. Uma coisa que era uma meta antes pode deixar de fazer sentido agora. Nossos valores mudam, as circunstâncias mudam, nós mudamos. Revise as suas metas periodicamente.
A meta não é para te escravizar, é para te motivar a agir.
A meta não é para bagunçar a sua saúde mental, é para te ajudar a viver com mais foco e mais equilíbrio.
A meta não é para você provar nada para ninguém, é para te ajudar a se desafiar e a confiar mais em você e na sua capacidade.
A meta não é para que você dê check na vida, é para que você possa viver com mais propósito os seus dias.
Porque viver, acredite, é bem mais do que apenas sonhar.
Essa reflexão vale para a sua vida de maneira geral, eu sei, mas, tente pensar em tudo o que eu falei no contexto da sua carreira.
Quais são as suas metas profissionais? Elas são específicas, mensuráveis, atingíveis, relevantes e têm um prazo para acontecer? O que você almeja para a sua carreira no próximo ano? E o que você já está fazendo para alcançar o que deseja?
Para se inspirar:
TED Talk “Comece pelo porquê: como grandes líderes inspiram ação”, com o Simon Sinek, criador do chamado “Golden Circle” (“Ciclo Dourado”), um método que ele explica nesta palestra e que tem TUDO a ver com o que eu sempre digo: meta sem propósito é meta vazia.
Os Sócios Podcast, com o episódio “Como definir metas”. Achei que as discussões sobre metas foram bem agregadoras nesse episódio, independentemente de alguns discursos que eu discorde e que me geram ansiedade! Rs. Eu já falei sobre por que parei de seguir os gurus, né? (leia o texto aqui, caso ainda não tenha lido). Apesar disso, há sempre conteúdos agregadores e de qualidade se a gente souber filtrar!
Podcast “Fala, Imparável!”, com o episódio “O segredo para começar e manter uma rotina de hábitos saudáveis”, com Flávia Ju (médica, cirurgiã plástica, criadora de conteúdo e empreendedora) e Thaisa Leal (nutricionista, escritora, criadora de conteúdo e especialista em neurociência do comportamento).
Podcast “Do You F***ing Mind?”, com o episódio “Why discipline is your ticket to the life you want” (“Por que a disciplina é o seu ticket para a vida que você quer”), com a Alexis Fernandez, uma australiana neurocientista que sempre traz temáticas muito interessantes sobre sáude (física e mental), longevidade etc. Infelizmente, só há versão em inglês… (se você não entende inglês, tá aí um incentivo bacana para começar a aprender, né?).
Com amor,
Ana.
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