O poder de saber o que você não sabe.
Num contexto em que só a mudança é permanente, precisamos reavaliar nossas crenças e aprender novas maneiras de pensar e agir no mundo. No entanto, por que é tão difícil mudar de opinião?
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“Um ciclone atravessou as nossas vidas, de repente tudo fora do lugar, hoje eu sei, só a mudança é permanente, de repente tudo está no seu lugar…”.
(Trecho da música “Duas Noites no Deserto”, dos Engenheiros do Hawaii)
Um dia você descobre que não há nada de errado em mudar de opinião. Com o tempo, esse tempo que ora voa, ora engatinha, você percebe que as pessoas mudam, os contextos mudam, os pontos de vista mudam, alguns sonhos também mudam, e a vida vai seguindo assim, num ciclo permanente de mudanças sem-fim.
Quando eu era criança, sonhava com um mundo cor-de-rosa com cheiro de primavera e gosto de hortelã. Tudo o que eu queria era me infiltrar nesse universo de imaginação, em que as brincadeiras de rua, as cantigas de roda, a hora do recreio e os passeios em família, aos finais de semana, eram as minhas maiores urgências. Estudar para as provas finais da escola, escolher o que ganhar no aniversário e no Natal, comprar a roupa da moda, a sandália da Xuxa e o novo modelo da boneca Barbie eram as minhas maiores preocupações (privilegiada, não?).
Não viajar nas férias, não agradar ao garoto-mais-lindo-de-todo-o-universo, dormir no escuro, brigar com as minhas-melhores-amigas-da-vida e ficar de castigo eram os meus medos mais abomináveis (por que é que a gente quer ser adulto mesmo? Rs). Eu era inocente; não sabia de um montão de coisas, não tinha ideia do quanto pesavam as responsabilidades do ser adulto, do quanto havia coisas que independiam da minha vontade para serem ou deixarem de ser, do quanto as pessoas podiam ser maldosas e cruéis, do quanto as minhas crenças construídas na infância teriam impacto direto e profundo na minha vida de adulta. Eu lia contos de fadas e me sentia abraçada pelos finais felizes. Eu acreditava nas palavras de qualquer pessoa. Meus pais não mentiam, por que os outros mentiriam? Eu gritava a minha felicidade aos quatro cantos. E queria ser paquita.
Com o tempo, porém, minhas urgências mudaram, minhas preocupações mudaram, meus medos, valores e objetivos na vida também mudaram. Até alguns sonhos deixaram de ser sonhados, substituídos por outros mais relevantes, mais palpáveis, mais mensuráveis, mais reais.
Se ao me formar na faculdade eu achava que já saberia tudo o que fosse preciso para ser adulta e trabalhar na construção de uma carreira bem-sucedida, como jovem recém-formada, eu descobri que ainda não sabia de quase nada, nem sobre a minha profissão na prática, nem sobre mim mesma. Aliás, o que eu estava chamando de “ser bem-sucedida?”. O que era sucesso pra mim?
Nunca, em tempo algum, a enigmática frase de Sócrates, “só sei que nada sei”, fez tanto sentido pra mim. “Formei, e agora?”, eu me perguntava. Mas meus próximos passos eram uma incógnita. Eu não sabia a resposta.
A vida traçou caminhos pelos quais caminhei rumo ao desconhecido. Entre trancos e barrancos, pedras, flores e espinhos, eu mudei. E tive que aprender a reaprender também; a repensar meus valores e objetivos, a reavaliar minhas crenças e porquês, a errar erros novos, a lidar com o desconforto da dúvida.
Hoje, mais adulta, mais madura, mais centrada, mais segura de mim, continuo pontuando que a única constância na vida é a mudança.
Mudar será sempre o nosso começo, o nosso meio e o nosso infinito.
Mas por que é tão difícil mudar?
“Alguns psicólogos alegam que somos ‘sovinas mentais’: preferimos a facilidade de nos agarrarmos em visões antigas à dificuldade de compreender ideias novas. Mas existem também forças mais profundas por trás dessa resistência. Quando questionamos a nós mesmos, o mundo se torna mais imprevisível. Somos forçados a admitir que os fatos podem ter mudado, que algo que antes era correto pode ser errado agora. Repensar algo em que acreditamos piamente é uma ameaça à nossa identidade, nos dá a sensação de que estamos perdendo parte de nós”.
(Trecho do livro “Pense de Novo”, de Adam Grant)
O que diz a neurociência
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