Teste vocacional? Não, obrigada.
Os testes vocacionais até ajudam, claro, mas são incompletos e rasos do ponto de vista de uma escolha de carreira consciente. Entenda o porquê e quais são as melhores soluções para escolher melhor.
Photo by Annie Spratt on Unsplash.
Eu tinha 17 anos quando fiz o meu primeiro teste vocacional, numa tentativa quase desesperada de encontrar uma resposta que fosse capaz de acabar com as minhas dúvidas, angústias e a minha total falta de clareza em relação a uma das escolhas mais importantes da minha vida: que profissão seguir. Até aquele momento, eu já tinha considerado tantos caminhos profissionais que eu já nem sabia mais qual era de fato a minha área de interesse: humanas? Biológicas? Exatas?
Já quis ser dentista, astronauta, policial, professora, atriz e médica pediatra. Depois de entender que eu tinha muita facilidade para escrever e era boa em português, história, geografia e literatura (a minha disciplina preferida), acabei me enveredando mesmo para a área de humanas. Cogitei cursar a faculdade de Direito (como minha mãe), mas o fato de ela sempre ter me falado que só escolheu o Direito para agradar a família, porque ela queria mesmo era cursar Pedagogia ou Serviço Social (o que nunca aconteceu), acabou me fazendo reconsiderar. “Meu pai dizia que Direito, Medicina e Engenharia eram as profissões que realmente davam dinheiro”, mamãe me contou uma vez. “Como eu nunca cogitei ser médica e muito menos engenheira, sobrou o Direito” (detalhe: apesar de ter se formado com honras e mérito e ter passado na OAB com facilidade, ela nunca atuou como advogada na vida).
Venho de uma família de médicos (meu pai é médico, meu padrinho é médico, muitos dos meus tios são médicos e, para não fugir muito da área da Saúde, minha irmã, um ano mais nova do que eu, sempre esteve muito segura a respeito da decisão de fazer Terapia Ocupacional - o que de fato aconteceu). Quando eu disse que queria mesmo era ser atriz, depois de anos fazendo cursos de teatro, as pessoas acharam aquilo muito engraçado, mas, com seriedade, logo disseram: “Ok, mas, primeiro, escolha um curso superior de verdade pra você fazer”. Artes Cênicas estava fora do páreo.
Do Direito às Artes Cênicas, passou pela minha cabeça um pouco de tudo o que a área de Humanas tinha direito: cogitei, inclusive, fazer faculdade de Filosofia, mas me disseram que eu já filosofava tanto que aquilo tudo seria uma perda de tempo (e de dinheiro, diga-se de passagem). Curiosa que sou, encontrei na Comunicação Social uma maneira de unir um pouco de tudo o que eu gostava e tinha facilidade para fazer: ler, escrever, comunicar, pesquisar, investigar, estar em contato com pessoas, cursar disciplinas cuja grade trazia fotografia, cinema, história da arte, rádio e TV… Olha que beleza!
Foi com esse ideal romântico e com muitas dúvidas a respeito de qual caminho seguir dentro da Comunicação Social (Jornalismo? Relações Públicas? Publicidade e Propaganda?) que eu resolvi fazer o tal do teste vocacional que estava todo mundo fazendo na escola, até mesmo quem já tinha escolhido o que faria no vestibular. “É só para confirmar”, diziam, como se o teste vocacional, por si só, já fosse uma espécie de aval para seguir em frente naquele caminho específico… Mas, que caminho?
Ao me deparar com o tal do teste, enviasada que eu estava para a área de Humanas, eu sabia que estava “direcionando” as minhas respostas para o que eu achava que queria que o teste dissessse, mas, ao mesmo tempo, acabei me perdendo ainda mais naquelas questões todas, tão generalistas e abrangentes, a ponto de o resultado final parecer uma salada mista de ideias que mais me confundiram do que me ajudaram no processo: Administração, Geografia, Letras, Marketing, Pedagogia, Serviço Social, Ciência Política, Design Gráfico, Direito, Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda foram apontados como caminhos possíveis para a minha realização profissional. Olhei para aquele resultado e só me lembro de dizer: “E agora?”.
Gostar muito de escrever + ser boa em português, história, redação, geografia e literatura na escola + ter achado mais legal a grade de disciplinas da faculdade + desespero de ter que escolher mesmo sem fazer ideia de como era o mercado, o estilo de vida e a realidade da profissão + ideal romântico de que eu podia mudar o mundo com as minhas reportagens = Jornalismo.
E o teste vocacional? Bem… Ele pode até ter ajudado, claro, mas era e continua sendo incompleto e raso do ponto de vista de uma escolha de carreira consciente. Como resultado dessa escolha “vocacionada”, tranquei mais de três vezes a faculdade de Jornalismo até me formar, cursei disciplinas isoladas de Pedagogia e Relações Públicas, cogitei migrar para a Psicologia, me formei em Teatro e só conclui o curso de Jornalismo seis anos após eu ter sido aprovada no vestibular.
Atuei no mercado como jornalista corporativa durante anos, para, então, entender que eu queria construir uma carreira de mais autonomia, flexibilidade e perspectiva real de crescimento sem que eu precisasse acabar com a minha saúde mental por causa disso.
Foram muitas as minhas descobertas e desafios ao longo dessa jornada, num processo contínuo de aprendizados e entendimentos sobre mim mesma, meus valores, meus objetivos, meus pontos fortes e interesses, o estilo de vida que mais fazia sentido pra mim, os ônus e bônus de cada escolha, a realidade do mercado, das profissões e dos inúmeros caminhos possíveis de contrução e reconstrução que nenhum teste vocacional no mundo é capaz de abarcar, simplesmente porque nossas escolhas partem de um lugar extremamente pessoal, com contextos internos e externos que são extremamente dinâmicos e que vão se desdobrando em novas e novas possibilidades de ser, viver e trabalhar.
Um teste vocacional não dá conta de tanta complexidade. Nem de tantas mudanças cada vez mais velozes, mais intensas e mais profundas na forma como a gente achava que as coisas eram ou podiam ser, mas que não foram ou não são mais.
No dossiê abaixo, quero te apresentar aos cinco principais motivos que me fazem não gostar dos testes vocacionais como única ferramenta de escolha profissional ou mesmo como uma avaliação assertiva a respeito de um caminho que tem tantos parênteses como esse que a gente chama de “carreira”. Se, para muitos, uma escolha é uma sentença, eu me arrisco a dizer que os tais dos testes vocacionais têm a sua parcela de culpa nisso. E vamos entender por quê.
Para além das críticas, também vou te apresentar a soluções possíveis para gerar mais clareza a respeito do seu caminho (ou dos seus caminhos vocacionais).
Bora pro dossiê?
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